A atualização da NR-1 trouxe um avanço significativo na forma como as empresas brasileiras precisam encarar a saúde mental e a segurança no ambiente de trabalho. Especialmente no segmento de refeições corporativas, onde produtividade, qualidade e eficiência são essenciais, essa nova regulamentação exige uma abordagem estruturada dos riscos psicossociais. Em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência Social divulgados pela Forbes Brasil, o país registrou 472 mil afastamentos por transtornos mentais, um aumento de 67% em relação ao ano anterior. Esses números evidenciam a urgência da adoção de ações preventivas pelas empresas.
Para garantir uma implantação eficaz da NR-1, é necessário adotar medidas essenciais. O primeiro passo é a revisão e atualização do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), assegurando que fatores como sobrecarga emocional, jornadas exaustivas, comunicação inadequada e assédio moral sejam incluídos no inventário de riscos. Essa revisão deve contemplar a identificação clara dos riscos, bem como a implementação de ações concretas para prevenir e minimizar esses fatores.
Outro ponto essencial é a capacitação contínua das lideranças. Segundo a Harvard Business Review, líderes preparados para identificar sinais precoces de problemas emocionais podem reduzir em até 40% o estresse nas equipes. Assim, é necessário criar treinamentos estruturados que abordem escuta ativa, comunicação assertiva, inteligência emocional e gestão de conflitos, formando gestores conscientes do impacto do seu comportamento na saúde mental dos colaboradores.
Paralelamente, as empresas devem implementar políticas de suporte eficientes. Programas de apoio psicológico, canais confidenciais para denúncias e diretrizes claras sobre comportamento organizacional saudável são fundamentais para garantir que os colaboradores tenham acesso a suporte e orientação sempre que necessário. Esses canais fortalecem a segurança psicológica dos colaboradores e promovem transparência nas relações de trabalho.
O monitoramento contínuo e a avaliação dos resultados também são essenciais para a eficácia dessas ações. Acompanhar regularmente indicadores como absenteísmo, rotatividade, produtividade e clima organizacional permite às empresas identificarem pontos de melhoria e realizarem ajustes rapidamente. Além disso, envolver os colaboradores diretamente na análise desses indicadores gera responsabilidade coletiva e incentiva uma participação ativa na construção de um ambiente saudável.
No entanto, é importante ressaltar que abordar os riscos psicossociais não deve se limitar ao cumprimento normativo ou a discussões pontuais. Para serem efetivas, essas medidas precisam fazer parte da cultura organizacional. Isso implica diretamente no comportamento das lideranças, pois são os exemplos cotidianos que validam qualquer iniciativa estruturada. Não basta desenvolver treinamentos ou criar canais de comunicação se, na prática, os líderes não proporcionarem um ambiente coerente com os valores defendidos pela empresa. Dar espaço real para que os colaboradores participem ativamente das decisões e das melhorias organizacionais é fundamental para que o discurso seja consistente com as práticas.
Além disso, é preciso reforçar que a saúde mental é uma responsabilidade compartilhada entre empresa, colaboradores e poder público. Empresas têm o papel de criar condições adequadas de trabalho, colaboradores precisam assumir o protagonismo no autocuidado e no engajamento coletivo, e o poder público deve garantir políticas sociais que contribuam para o equilíbrio econômico, social e emocional da sociedade. Quando todos entendem seus direitos e deveres e percebem um senso de justiça e propósito nas suas atividades, isso se reflete em profissionais mais realizados e, consequentemente, em um ambiente laboral mais harmonioso e produtivo.
Um grupo-chave para o sucesso da implantação da NR-1 nas empresas de refeições corporativas são os gerentes de unidade, geralmente nutricionistas, que atuam diretamente na operação. Esses profissionais têm um papel essencial na multiplicação da cultura organizacional, podendo ser grandes agentes de transformação junto às suas equipes, independentemente das práticas gerais da empresa. Por estarem próximos às equipes diariamente, eles podem implementar pequenas ações que causam grande impacto no bem-estar emocional e no engajamento das pessoas. Por exemplo, o gerente pode reservar alguns minutos diários para conversar individualmente ou em grupo com os colaboradores, demonstrando interesse genuíno pelo bem-estar de cada um e fortalecendo a confiança da equipe. Outro exemplo prático é gerenciar o banco de horas das equipes de forma consciente, equilibrando produtividade e qualidade de vida, garantindo que as jornadas sejam compatíveis com o bem-estar emocional e físico dos colaboradores, afinal, apesar da complexidade que o segmento representa, trabalhamos com pessoas que possuem suas particularidades pessoais. Além disso, pode aplicar práticas de valorização profissional, reconhecendo publicamente os bons resultados, destacando conquistas individuais ou em equipe, e promovendo um ambiente celebração e de valorização contínua. Essas práticas, mesmo simples e independentes das ações organizacionais mais amplas, promovem um ambiente emocionalmente mais saudável, equipes mais engajadas e resultados cada vez melhores para todos.
Na Apetit, cuidar das pessoas sempre foi um valor cultural sólido. Nossa visão é que a NR-1 reforça práticas que já valorizamos internamente há muito tempo, como a existência consolidada de canais confidenciais para denúncias, acompanhamento constante dos indicadores de gestão de pessoas e políticas estruturadas de suporte emocional. Atualmente, estamos aprofundando ainda mais nosso compromisso: estamos em fase de revisão detalhada do nosso Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), reestruturando a Universidade Corporativa para ganhar ainda mais corpo nos processos de capacitação e fortalecendo a comunicação sobre as políticas internas existentes. Também investimos em ações que colocam os colaboradores como protagonistas ativos das melhorias, incentivando o autocuidado e promovendo a gestão compartilhada dos indicadores organizacionais. Para a Apetit, a NR-1 é mais uma oportunidade para fortalecer ainda mais nossa cultura de cuidado com as pessoas, garantindo a conformidade legal e principalmente um ambiente de trabalho verdadeiramente sustentável e saudável para todos.
Pamela Manfrin
CEO na Apetit Serviços de Alimentação